Cirleide
Cristina foi à primeira mulher a acionar a lei Maria da Penha no Cabo
de Santo Agostinho. Depois de vinte anos sofrendo violência de todas as
formas, recebeu segundo ela a sua carta de alforria
A
vítima, que vem de família humilde, analfabeta, mãe e mulher, Cirleide
Cristina de 41 anos apanhava todos os dias. Durante o dia, era
espancada, tratada como se fosse filha (se é que isso pode dizer) e de
noite mulher, para satisfazer os desejos do agressor. Durante 20 anos,
convivendo sob várias agressões achava que não tinha solução, porque
sabia que se denunciasse, não iria dá em nada. Até o agressor,
desdenhava dela, quando dizia que iria procurar seus direitos. Mas de
vários casos que acontecia a sua volta, onde a mulher denunciava e o
marido era solto, sabia que não iria adiantar.
Ainda
mas, porque “a violência gera medo” e por isso, a família nunca se
envolve, tem receio da situação e por ter aquele pensamento que o homem
manda e a mulher obedecesse. Então, sentia medo e o jeito era continuar
sendo a “coisinha derrubada, a negrinha, de boca cortada e cheia de
hematomas pelo corpo”, como era apelidada por ele e se encontrava após
as agressões. Além da violência física e moral que sofria, ainda
sustentava o agressor, onde trabalhava em um pequeno comércio do centro
no Cabo de Santo Agostinho. Passava o dia trabalhando e quando chegava à
noite, ele aparecia só para pegar o dinheiro, tão batalhado por
Cirleide.
Uma
mulher que não tinha conhecimento da lei, mas sonhava na liberdade, em
sair daquela situação humilhante, mas o agressor Francisco Ercílio de
Oliveira de 50 anos, a manipulava sempre dizendo “homem nenhum vai preso
por bater em mulher”, além de afirmar que ela e os filhos dependiam
financeiramente dele para sobreviver e por não ter a ajuda da família
tinha medo. Mas no dia 22 de setembro de 2006, Cirleide nasceu de novo,
ganhou a tão sonhada voz e liberdade, para denunciar as inúmeras violências que sofria.
Depois
de mais um dia de espancamento, Cirleide Cristina foi ao Centro das
Mulheres do Cabo –CMC organização feminista não governamental que luta
pelos direitos iguais das mulheres. Nesse mesmo dia, não sabia ela, mas a
Lei Maria da Penha com o objetivo de criar mecanismos para coibir a
violência doméstica e familiar contra a mulher, entrava em vigor e
juntamente com a advogada Lucidalva Maria do CMC, foi levada a delegacia
do Cabo de Santo Agostinho.
Como
a lei tinha acabado de entrar em vigor, nem o delegado sabia dos
procedimentos a serem tomados, mas a advogada, que já sabia da lei, pôde
orientá-lo, na qual estipulou uma fiança, mas Francisco Ercílio não
tinha condições de pagar. Foi detido, depois levado ao Centro de
Observação Criminológica e Triagem Professor Everardo Luna - COTEL, em
Abreu e Lima onde passou 4 meses e 3 dias preso.
A
lei Maria da Penha foi fundamental para Cirleide, porque antes as
mulheres lutavam cada uma por se e não chegavam a nenhum lugar, hoje
juntas, lutam em prol dos direitos iguais entre homens e mulheres.
“Essa
lei fez ele pagar todo o sofrimento que passei, depois de solto ainda
me ameaçava, mas voltei ao fórum e o juiz estipulou uma distância em
metros para não se aproximar da minha casa e ainda me prometeu que iria
passar o natal e ano novo como nunca passai antes” contou Cirleide.
Dito
e feito, foram um dos momentos mais felizes da vida dela, e sem contar a
sua independência financeira, porque no final das contas, quem
trabalhava e sustentava a casa era ela e continuou assim. Mas agora,
muito mais segura, com uma nova vida e, sobretudo feliz.
Por
Lara Souza
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